terça-feira, 13 de julho de 2010

O bem-estar é colorido

Quer mudar o aspecto de um ambiente e não sabe como? Recorra às cores! Elas têm um poder de transformação maior que o imaginado. Qual cor? Todas! Confira a interessante matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo sobre a influência das cores no bem-estar :

O Bem-estar é colorido
Nem verde, nem amarelo: quando o assunto é cor, é a variedade que produz, além de festa para os olhos, conforto físico e emocional
No mundo das cores, não faltam ideias preconcebidas, mas nada é preto no branco.
Definições simplistas como cor quente/ cor fria podem funcionar em manuais para decoradores, mas, na real, não é o que funciona.
“Procuramos reproduzir a diversidade cromática que encontramos na natureza. Ninguém aguenta ficar muito tempo em um ambiente de uma só cor, é tortura” , afirma João Carlos de Oliveira César, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
É a diversidade de cores que produz o desejado bem-estar, “como quando estamos em contato com a natureza”, diz César.
O conforto de um entorno mais colorido também é físico. “Se a pessoa fica olhando muito tempo para uma só cor, usa apenas um dos cones da retina, cansa a visa. Para descansá-la, precisa olhar para outra cor, para usar outro desses cones”, explica o arquiteto.
Pensar a cor além do senso comum está ficando pop. No Reino Unido, um livro sobre a influência das cores no pensamento humano (“Through the Language Glass”, de Guy Deutscher) esgotou em menos de um mês.
No Brasil, o artista plástico Marco Giannotti prepara a edição do livro “Reflexões sobre a Cor” (ainda sem previsão de lançamento).

Baseado nos trabalhos do grupo de pesquisas cromáticas, da Faculdade de Comunicação e Artes da USP, a obra é uma reflexão sobre as cores que transcende as manifestações artísticas.
“O trabalhador rural, ao ver as fachadas de Volpi, pode perceber por que suas fachadas são sempre coloridas (...) O médico pode interpretar a relação entre cor e fisiologia. O torcedor de futebol pode indagar sobre a cor característica de seu time”, escreve Giannotti.
Há séculos, artistas, filósofos, físicos e, mais recentemente, neurocientistas, tentam entender as causas e os efeitos da percepção da cor.
Algumas conclusões desses pensadores passaram a fazer parte do repertório popular sobre as cores. Todas podem fazer sentido, mas é de bom tom reavaliá-las de acordo com as condições de cada época.
“Hoje, com a vastidão de novos pigmentos, criamos cores que nunca existiram. Isso derruba a noção de cor primária. Não existe cor pura. Você já viu um vermelho puro?”, pergunta Giannotti.
Não, mas você já fez uma construção mental do vermelho. E é essa construção que vai levar à percepção subjetiva da cor que desencadeia uma série de emoções, comportamentos, pensamentos.
Ao mesmo tempo, há uma percepção objetiva. Cada matiz (a cor básica) que é captado por uma célula-cone da retina e decodificado no cérebro pode causar reações fisiológicas mensuráveis.
Estudos mostram, por exemplo, que uma exposição intensa ao vermelho faz a pressão arterial subir.
“O predomínio de determinada cor causa reações no organismo, mas o efeitos também dependem da luminosidade ou saturação(pureza) da cor”, diz  João Carlos de Oliveira César.
Paula Csillag, professora de cor e linguagem visual da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) de São Paulo, idealizou um modelo sobre comunicação de cor que combina a percepção objetiva com a subjetiva.
O modelo que justapõe os efeitos objetivos da cor com o leque de interpretações subjetivas possíveis cria um caminho para usar cores que extrapola as regras preestabelecidas.
Por exemplo, se uma cor vibrante causa objetivamente reações de excitação (como o aumento da pressão), isso pode ser interpretado tanto como alegria quanto como perigo.
Além dos aspectos fisiológicos, culturais e emocionais, questões individuais influem no efeito da cor.

Quartinho Pastel

O arquiteto João Carlos de Oliveira César explica que, em crianças muito pequenas, o que surte mais efeito são as cores vivas.
“Como a visão não está totalmente desenvolvida, bebês precisam de cores vibrantes e diferentes entre si para serem estimulados.”
Portanto, quartinhos em tom pastel podem corresponder a algum ideal da mãe ou da família, mas não vão fazer muita diferença para o bebê.
Para idosos, funciona mais delimitar áreas coloridas. “Mesmo se ele não tiver problemas visuais, as bordas de uma área colorida ficam embaçadas se ela for muito extensa”, diz César.
Para aumentar a sensação de segurança em um ambiente, não importa tanto a cor em si, mas o jogo de luzes. “Um quarto com piso mais escuro que a parede, que é mais escura que o teto, dá a sensação de limite”, afirma o arquiteto.
A predominância de determinado tom pode ajudar a criar um clima mais propício à introspecção (como no caso do azul) ou à extroversão (vermelho). Mas a policromia total, o uso livre de diferentes cores, já é um efeito por si só.
Isso pode ser visto nos trabalhos realizados pelos participantes do projeto “A Gente Transforma”, idealizado pelo arquiteto Marcelo Rosenbaum e patrocinado pelas tintas Suvinil.
As propostas para transformar comunidades carentes envolvem várias ações. Mudar o tom do local, literalmente, é uma delas.
“As cores diminuem a tensão nesses lugares, aumentam a autoestima dos moradores e criam associação entre eles”, crê Rosenbaum.
As cores e combinações foram escolhidas pelos próprios moradores. Deu Volpi na cabeça. Não dá pra saber o quanto de reações fisiológicas e de influências culturais contribuem para o efeito feliz do novo visual dos locais. Mas que as cores funcionam, funcionam.

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